Harangszó, 1958 (5. évfolyam, 1-12. szám)

1958-06-01 / 6-9. szám

vordade é uma denominagäo ambigua e equivale mais ou menos a isto: “eu per­­tengo ä Igreja catolica, mas näo levő muito a serio os seus preceitos nem a­­credito no seu ensinamento“. E essa a­­titude, note-se bem, é essencialmente di­­ferente da do pecador que caisse em pe­­cado mortal todos os dias e tod <s os dias buscasse no sacramento a paciencia de Deus. О que atrapalha as contagens de mem­­bros da Igreja no Brasil é о fato, mais cultural, mais sociologico do que religio­so, de serem quase todos batizados. E’ bem possivel que 93,7% dos brasileiros sejam batizados, pcrque о batismo se tor­­nou um costume, uma tradigäo, um trago sociologico de nossa cultura, visando mais a festa, os doces e os compadres do que о os dons do spirito Santo e as renuncias que о acclito pronuncia solenemente, já que о padrinho nem de longe suspeita a responsabilldade que está tornando diiante de Deus. E essa genera­­lizagäo do batismo, numa populagäo de incredulidade beata, como dizia Ruy Barbosa, originou-se de uma negligencia dos proprios ministros do sacramento ba­­seada no falso postulado da maioria ca­tolica. Em regra geral, о padre pensa que a familia que se aproxima da pia com, uma crianga de colo é catolica. Pen­sa, porque todo о mundo diz que säo ca­­tolicos. E assim se multiplica о numero de criangas batizadas dentro de familias näo catolicas e até agressivamente an­­ticatolicas. Quando crescer, a crianga será matricuiada no colegio como catoli­­ca, embora näo frequente о catecismo' nem vá á missa. Homem feito, se tem fi­­gado inclina do á tolerancia, dirá que é catolico porque seus pais eram catolicos. Contaram-me о caso de uma rapaz que pcrtencia á ilustre fami’ia Macedo Soa­res e que, interrcgado pelo professor sobre seu credo, respondeu pronta­­mente: “Os Macedo Soares säo catoli­cos”. E aqui tocamos о ponto central do problema, para о quäl pe?o a ctencäo do leitor. Hä no mundo, e sempre houve, diver­sas religiöes naturais que säo feitas pe­lo homem, pelas sociedades, num natu­ral anseio de elevagäo da alma. О homem é naturalmente religioso, como é na­turalmente politico. Faz parte da al­ma humana a tendencia de buscar um ser supremo que explique о misterio da vida. Esses atos religiosos podem ser vivificados pela graga de Deus e podem ter valor real de participagäo da vida di­vina: mas о culto' e os codigos eticos de tal religiäo säo obra humana, diferencia­­da pela indole e pela cultura do povo. A religiäo natural é uma especie de subli­­magäo dos costumes, e transmite-se por tradigäo fixista e conservadora. A reli­giäo catolica, ao contrario, se apresenta сото religiäo feita por Deus e dada aos homens de dois modos: por uma Revela­­gäo e por uma infusäo de graga santifi­­cante. Sendo universal, eia hä de trans­­cender a todos os costumes, a todos os tipos de civilizagäo, e por muito mais forte razäo hä de transcender aos no­mes das mais ilustres familias brasileinaß. A tradigäo que funciona nesta socieda­­de sobrenatural näo é fixista e socio.o­­g.ca: é tradigäo dmamica de entrega, de “course aux flambeaux”, mais impulsiva do que simplesmente conservadora. E ciaro que tudo isto c’est ä laisses ou ä lirendre. E’ catolico quem quer. Podemos até dizsr que, felizmente, näo sendo isto aqui uma Espanha do general Franco, näo hä nenhuma vantagem oficial em ser catolico. Mas quem é catolico com um mi­nimo de maioridade e de ccnseiencia sabe responder melhor do que aquele moqo des­cendente de täo boa familia. Sabe dizer esta fräse simplissima: Sou catolico com a graga de Deus. О ponto onde quero chegar é о seguin­­te: hä diversas religiöes naturais, ao sa­ber da diversidade de culturas. Ora, о Brasil conseguiu nessa materia uma coi­­sa realmente original: criou uma religiäo natural, сот о nome de catolica aposto­­lica romana. Os tais näo graticantes, que nas estatisticas se dizem catolicos, estäo nesse caso. Conservam certos habitos re­­cebidos de seus pais. Um deles é о de batizar о filhinho com festas, doces e no­vos vinculos de parentesco entre os com­padres. О casamento na igreja é outro habito tradíciónál (no sentido sociologi­co) da. tal maioria catolica. E tudo isto traduz num amontoado cada vez maior de casos drficeis, de problémás teologi- СОЗ insoluveis, ou pelo menos täo emba­­raqosos como os problémás teologicos tra-zides pela conversäo dos indios, que jä näo sabiam сот quem eram casados. A conclusäo a que chegamos é que о problema religioso no Brasil é, antes de tudo, confuso, impreciso, a.ieitado; ambi­guo. reticente, fluido e que. melhor se­ria; tanto para nos, catolicos, como para os näo catolicos, se houvesse um pouco mais de franqueza e de nitidez. О fato é que, sendo Pais de maioria catolica no Ifamarati, nos continuamos a receber pa­dres da Holanda, dos Estados Unidos, da Alemanha, para suprir as enormes lacu­nas de nossas vocagoes. Na verdade, e no duro, os catolicos fieis do Brasil säo muito menos numerosos do que se pensa. Em vez de 93,7%, tenho a impressäo de serem menos de lo%. Contem de novo, mas desta vez fazendo certas perguntas mais claras, e veräo que näo estou exa­­gerando a pequenez da cifra. E tomo a dizer que essa é a unica explicagäo que nos deixa bem, porque, de outro modo, como já vimos; teriamos о maior nume­ro dos piores catolicos do mundo. Transerito do "0 Estado de S. Paulo, 21 -9*68.

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